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Entrevista: Produção de biogás deve deslanchar com o RenovaBio


*Entrevista dada no Canal Bioenergia.
link: http://www.canalbioenergia.com.br/entrevista-producao-de-biogas-deve-deslanchar-com-o-renovabio/


Introdução:

Todos esperam, com muita ansiedade, o momento em que o Brasil irá parar a importação de combustíveis fósseis e, finalmente, aproveitar o GRANDE potencial que temos de produção de BIOcombustíveis e, assim, tornar nossa matriz de energética mais VERDE. As importações de diesel do Brasil cresceram 63,6% em 2017 ante o ano anterior. Já as importações de gasolina A (antes da adição de etanol), no ano passado, por sua vez, cresceram 53,4% ante 2016, segundo documento no site da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Após o compromisso de Estado na COP21 em reduzir os gases de efeito estufa, o Brasil, através do Ministério de Minas e Energia, lançou o RenovaBio cujo objetivo é expandir o produção de biocombustíveis, baseada na previsibilidade, na sustentabilidade ambiental, econômica e social. Neste cenário, o Biometano, oriundo do Biogás, possui grande competitividade. Segundo a #ABiogás, esse combustível Verde e renovável [BIOMETANO] tem potencial para substituir 44% do diesel consumido que resulta na redução significativa 74% dos GgCO2.

Veja mais na entrevista!



Rodrigo Regis é diretor-presidente do Centro Internacional de Energias Renováveis-Biogás (CIBiogas). Engenheiro eletricista, especialista em Inovação Empresarial pela Universidade Politécnica de Valência-Espanha e mestre em Engenharia de Sistemas, pela Universidade Estadual do Pernambuco. Doutorando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). Atuou na NCTI (Negócios de Tecnologia e Inovação), como Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento e na EcoEnergia Brasil. Trabalhou também na área de Pesquisa & Desenvolvimento da Fundação Parque Tecnológico Itaipu – FPTI. Cedido ao CIBiogás, pela FPTI desde 2013.
Canal: De que forma o RenovaBio deve impulsionar o desenvolvimento do Biogás?
Rodrigo Regis: O Renovabio é uma política que estimula a descarbonização com foco nos combustíveis. Então, conforme a pegada de descarbonização, são apresentados valores diferentes para os combustíveis. Entre os biocombustíveis apresentados, o biometano, que é oriundo do biogás, é o com a pegada neutra dependendo das plantas. Segundo a Associação Brasileira de Biogás e Biometano (Abiogás), o biometano é o único biocombustível com pegada negativa quando todo o ciclo de vida é analisado, mas o governo trabalhará com pegada praticamente neutra. Por exemplo, o biogás oriundo de dejetos e de rejeitos agrossilvipastoris é o biocombustível com o maior valor de descarbonização, então isso vai incentivar o biogás, não só de resíduos agrossilvipastoris, mas também de resíduos sólidos-urbanos e plantas de etanol. Consequentemente, as plantas de etanol que produzem biometano serão valorizadas por isso. Se a planta de etanol, por exemplo, usar em sua frota veículos movidos a biometano, terá uma avaliação de uma pegada maior de descarbonização, valorizando mais o combustível. Como o biometano é o combustível mais competitivo, quando se trata de descarbonização, entendemos que é outra receita que vai impulsionar o biogás, incrementando as entradas nos modelos de negócios com biogás. Então, além de vender combustível, ter CO2 e ter o biofertilizante, terá o CBIO (Crédito de Descarbonização por Biocombustíveis) que vai ser outra fonte receita, gerando mais competitividade.
Canal: O setor está otimista com as novas diretrizes que devem surgir?
Rodrigo Regis: Sim. Não se fala de outra coisa no setor. Recentemente tivemos uma boa notícia: que o Marco Félix, que estava coordenando o RenovaBio, será o novo secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia. Ficamos bastante felizes com essa notícia, porque foi uma pessoa que trabalhou com bastante afinco no desenvolvimento desse projeto dentro do Ministério. Outra informação muito positiva é o José Mauro Ferreira, que já é um entusiasta da questão do biogás e reconhece o biometano como um combustível competitivo, e virou presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Então, acredito que esse programa já deixa todo o setor bastante otimista, principalmente o de biometano, que ainda está se consolidando, ganhando corpo e espaço dentro desse mercado de biocombustíveis.
Canal: Como o CIBiogás tem atuado para contribuir com o desenvolvimento das metas do RenovaBio?
Rodrigo Regis: O CIBiogás atuou muito no desenvolvimento do mercado do biogás, provando que o biometano é um combustível viável, principalmente para o agronegócio.  Temos duas plantas de biometano, uma na Granja Haacke me Santa Helena (PR) e outra na Itaipu Binacional em Foz do Iguaçu (PR).
O CIBiogas tem atuado em dois pontos para ajudar no desenvolvimento do mercado, que vai contribuir indiretamente para as metas do Renovabio, um deles é o desenvolvimento da cadeia nacional de produtos e outro a modelagem de negócios.
Atualmente as plantas de biometano com viabilidade econômica são plantas que produzem em grandes volumes, isso porque é preciso importar tecnologias. Então o CIBiogás vem trabalhando com instituições e empresas nacionais para desenvolver a nossa tecnologia. O objetivo é ter uma cadeia de suprimento nacional e, dentro dessa possibilidade, criar escalabilidade de produtos e viabilizar o biometano como um produto no Brasil, para arranjos menores, criando possibilidades inclusive para os produtores rurais.
Outro ponto é a modelagem de negócios. O CIBiogás já desenvolveu um trabalho em conjunto com a Agência de Desenvolvimento Austríaca (ADA) para levantar modelos de negócio e potencial de biometano no Brasil. Com isso a gente vem mapeando as regiões do país que têm grande potencial e trabalhando em modelos de negócio para a produção de biometano, tanto em grandes volumes como para atender frotas dedicadas, por exemplo, de cooperativas e agroindústrias que  fazem a logística do processo de produção.  Então o CIBiogás vem trabalhando muito nesses modelos de negócio e em como apoiar com inovações e desenvolvimentos de produtores nacionais que deem condições de escalabilidade de biometano no Brasil.
Canal: O RenovaBio pode ser o para o setor?
Rodrigo Regis: Não consigo ver uma perspectiva negativa. Vejo que é um esforço e, obviamente, toda a política após a implantação é reavaliada como se fosse um ciclo de PDCA (método de organização de processos) normal. Isso aconteceu com o setor elétrico, a 482 de 2012, que sofreu alterações em 2015 e, provavelmente, vai sofrer novas alterações em 2019. Mas essa política da geração distribuída começou a abrir outro mercado, como a portaria 65 do Ministério de Minas e Energia com valores de referências para geração distribuída.
Então, entendo que o RenovaBio é uma política de estimulo, que pode passar por alguns ajustes, mas serão ajustes para melhorar. O mais importante do processo é que o RenovaBio dá uma diretriz para estimular os biocombustíveis no Brasil, porque não é possível um país importar em cinco anos 51 bilhões de dólares em diesel. O Programa dá um norte para um país que tem um potencial imenso de produção de biocombustível e proporciona a diminuição do consumo de combustíveis fósseis, que são os grandes responsáveis pela emissão dos gases de efeito estufa. O RenovaBio não só vai estimular a produção de biocombustíveis, mas o desenvolvimento de uma indústria nacional, gerando empregos, renda e desenvolvimento.
Canal: Quais devem ser os próximos passos do programa?
Rodrigo Regis: O Conselho Nacional de Políticas Energéticas (CNPE) vai definir agora qual é a meta de descarbonização para os próximos anos: quais metas devem ser atingidas gradativamente até alcançar o objetivo que queremos.  A partir dessas metas é que os projetos serão baseados, então aguardamos com muitas expectativas.
Canal: No Brasil, o aproveitamento de biogás tem sido interessante?
Rodrigo Regis: O uso do biogás no Brasil tem sido interessante, mas temos um grande potencial e a entendemos que o RenovaBio dará uma alavancada nisso. Faço parte também da Agência Internacional de Energia (IEA) e vemos que, comparado a outros países desenvolvidos, o uso do biogás no Brasil é pífio ainda. Se a gente olha de outra perspectiva, vemos que não usamos nem 1% do potencial de biogás, no entanto existe um espaço gigantesco de crescimento de mercado.
Canal: Quais as perspectivas para os próximos anos?
Rodrigo Regiss: O potencial local não tem sido bem aproveitado, de fato acho que o RenovaBio começa a trazer um ambiente institucional político que vai dar mais segurança para o investidor, porque a partir do momento que diversifica as receitas, proporciona  uma segurança maior. Ter uma diretriz apresentada pelo estado para redução e deslocamento de combustíveis fósseis começa a dar um norte, mas o biogás produzido hoje não chega nem a 1% do potencial que temos.
As perspectivas para os próximos anos são muito positivas. A gente começa a sentir isso quando vê um laboratório nosso que presta serviço de biogás ocupado e tendo demandas de serviços o tempo inteiro. A gente começa a sentir que o mercado de fato está se movendo para isso, quando o CIBiogás começa a ser procurado para resolver problemas não só de elaboração de projetos, mas de como estimular a tecnologia nacional e  como estimular a cadeia de suprimentos para a cadeia energética do biogás no brasil. Temos uma Associação Brasileira de Biogás extremamente ativa, com várias empresas discutindo mensalmente este tema, sem dúvida nenhuma a nossa perspectiva para os próximos anos é muito positiva.
No Oeste do Paraná, esse tema do biogás ganhou muito corpo nos últimos anos. A Itaipu Binacional investiu muito e vai continuar investindo neste tema. O diretor de coordenação da Itaipu Binacional, Newton Kaminstki, junto com o superintendente de Energias Renováveis da Itaipu, Paulo Schmidt, anunciaram recentemente o investimento em plantas de biogás na região, estimulando novos modelos de negócio, dentro do conceito de microgrid e de geração distribuída. Sem dúvida, estamos com uma perspectiva boa não só para o setor de biometano, como para a energia elétrica coma resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a portaria 65 do Ministério de Minas e Energia.


Ana Flávia Marinho-Canal-Jornal da Bioenergia



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