Relatório do World Wide Fund for Nature (WWF) mostra que países do G8 + 5, entre os quais o Brasil, têm grande potencial para aplicar técnicas de eficiência energética
Carolina Medeiros, para o Procel Info
O tema das mudanças climáticas está na agenda de quase todos os países do mundo e o principal desafio é saber que ações são eficazes no combate ao aquecimento global. Uma das saídas encontradas é a eficiência energética, que preza pelo uso racional de energia, evitando a construção de novas plantas de geração e a emissão de mais dióxido de carbono na atmosfera. Os países desenvolvidos da Europa e os Estados Unidos são os maiores emissores mundiais. No entanto, estudos mais recentes apontam que a China poderá se tornar, em pouco tempo, o país mais poluidor, caso continue com seu ritmo de crescimento e com a construção de usinas térmicas que utilizam o carvão mineral como combustível.
De acordo com um relatório da World Wide Fund for Nature (WWF), intitulado "Making Energy-efficiency Happen" (Fazendo a Eficiência Energética Acontecer), a implementação das medidas de eficiência energética ainda é tímida nos países do G8 + 5, grupo dos oito países mais desenvolvidos e dos cinco maiores países em desenvolvimento, que inclui o Brasil. Esses países - Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos mais Brasil, China, Índia, México e África do Sul - são responsáveis por 85% das emissões globais de gases do efeito estufa.
Segundo o documento, nesse grupo há um enorme potencial para aplicação de técnicas de eficiência energética em diversos setores, dentre eles, geração de energia elétrica, calefação e refrigeração, construção civil e transporte. O setor de energia, por exemplo, é um dos que mais emitem gases causadores do efeito estufa no mundo, responsável por aproximadamente 37%, ou mais de 700 toneladas por segundo.
O documento mostra ainda que os países que compõem o G8 + 5 têm um potencial ainda maior na área de eficiência energética e que as metas são técnicas e economicamente possíveis para todos os países. O relatório estima que o potencial de economia para o setor de energia varia entre 4% e 45% até o ano de 2030, dependendo do país. No Brasil, um estudo da WWF-Brasil, chamado "Agenda Elétrica Sustentável 2020", aponta que as técnicas de eficiência energética têm o potencial de reduzir em até 38% a demanda por eletricidade até 2020, e juntamente com a expansão de energias renováveis não convencionais como biomassa, eólica e termossolar, podem representar uma economia de R$ 33 bilhões para o bolso dos brasileiros.
Para Roberto Schaeffer, professor do Programa de Planejamento Energético da Coppe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o papel da eficiência energética no combate às mudanças climáticas é o impacto não criado. "O benefício da eficiência energética na redução das emissões é sobre a fonte energética que você deixa de usar", comenta o professor. Segundo ele, no Brasil, o potencial de redução das emissões de CO² no setor de energia é pequeno, pois o país tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo - 80% de hidrelétricas e 20% de outras fontes como nuclear, gás, carvão e cana-de-açucar. "No entanto, se pensarmos que 2/3 da energia nova têm sido de fontes térmicas, nesse caso, a eficiência energética está evitando a utilização dessa fonte de energia", observa o pesquisador.
O Plano Nacional de Energia 2030 (PNE 2030), elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), já começa a contemplar a eficiência energética como uma fonte de energia. No plano, considerou-se que 10% da demanda de eletricidade em 2030 seriam atendidos por ações na área de eficiência energética. De acordo com Schaeffer, o papel da eficiência energética no plano ainda é pequeno, mas já é um começo. Uma das propostas que, segundo o professor, poderia estimular a eficiência energética seria a criação de mecanismos de leilões de eficiência energética. "Dado que o novo modelo se pauta por leilão de menor custo, poderiam ser realizados leilões de eficiência energética, que poderiam se mostrar mais viáveis do que construir uma nova usina, além de ajudar no combate às mudanças climáticas", exemplifica.
O PNE 2030 também mostra que o Brasil ocupa o quinto lugar no ranking dos países que mais contribuem com emissões de gases, mas diferentemente de outros países, essa situação não se deve à produção e ao consumo de energia. Nesse aspecto, de acordo com o plano, o Brasil se destaca por apresentar reduzidos índices de emissão comparativamente ao resto do mundo, em razão da elevada participação de fontes renováveis em sua matriz energética.
No entanto, o plano aponta que as emissões no país deverão nominalmente se ampliar, alcançando pouco mais de 970 milhões de toneladas de CO2 em 2030. Em 2005, o índice de emissões foi de 1,62 toneladas de carbono por tonelada equivalente de petróleo (1,62 tCO2/tep); em 2030, passará para 1,74 tCO2/tep. Ainda assim, o nível de emissões será bem menor que a média mundial atual (2,32 tCO2/tep), mesmo considerando as metas de redução propostas pelo Protocolo de Kyoto.
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