Energia a partir da cana responde por 3,5% da demanda total do país e poderia chegar a 7,7% no pior cenário, gerando receita para as usinas de US$ 1,75 bilhão
Carolina Medeiros, da Agência CanalEnergia, Regulação e Política
12/07/2012
12/07/2012
A conexão entre a usina de cana-de-açúcar e o ponto de acesso à rede da distribuidora ou da transmissora é um dos entraves para a expansão da bioeletricidade, segundo um estudo sobre regulação de energia elétrica com biomassa da cana, que está sendo realizado pelo pós doutorando da Unicamp, Luiz Vicente Gentil. Atualmente, no país, existem cerca de 440 usinas, mas a bioeletricidade, ainda de acordo com ele, responde apenas por 3,5% da demanda total de energia elétrica do país, que é de 472 TWh.
Pelos cálculos realizados no estudo, cada gerador tem que pagar entre US$ 100 mil a US$ 150 mil em redes de 138 kV ou 230 kV para ter o ponto de acesso a rede, o que representa entre 5% e 30% de todo o investimento a ser feito em um nova geradora, seja um projeto de retrofit ou greenfield. "Mas não é só a questão financeira, mas também de regulação - quem paga o quê, como se faz", aponta.
Segundo Gentil, existe uma lei que estipula que quem paga a linha de transmissão entre a usina e o ponto de acesso é o gerador, o que inviabiliza, em muitos casos, a exportação da energia excedente para a rede. O trabalho, ainda de acordo com o pós doutorando, visa ainda encontrar uma forma de eliminar o atrito existente entre as geradoras e as distribuidoras para que o volume de bioeletricidade injetado na rede possa crescer.
"Eliminando isso, é possível injetar na rede entre 7,7% de toda a demanda brasileira, num pior cenário, a 20,1% de toda a demanda do país num cenário mais otimista, o que chegaria a 95 TWh", avaliou. Ainda segundo Gentil, no pior cenário, a receita que as geradoras poderiam obter chegaria a US$ 1,75 bilhão por ano só com geração de energia elétrica. "Isso significa que cada tonelada de cana geraria US$ 3 de receita em eletricidade e cada hectare de cana geraria, nesse cenário conservador, US$ 218", calculou. Em termo de receita das usinas, a energia elétrica representaria 6,3% do total.
O estudo propõe ainda, de acordo com Gentil, modelos de negócio para a geração de energia através da biomassa. De acordo com ele, o modelo tradicional, onde o próprio usineiro negocia a energia, não deveria ser estimulado, porque o seu ramo de negócio é a produção de açúcar e álcool. "As usinas tradicionais, que produzem açúcar e álcool e que tem a eletricidade em segundo plano, isso vai desaparecer. A nossa proposta é que grandes grupos, que tenham uma nova diretoria ou um novo CNPJ de exportação de eletricidade, assuma o negócio da produção de energia. O usineiro seria sócio dessa nova empresa e responsável pela entrega do combustível e da infraestrutura local e o outro sócio teria o conhecimento do mercado e saberia vender a energia", explicou.
Gentil afirmou que esse modelo já está sendo utilizado em alguns casos e que grandes empresas estrangeiras e multinacionais do ramo do petróleo e agronegócio, entre outros, já respondem por cerca de 25% de toda a cana do Brasil. "Essas empresas tem expertise em gestão corporativa, tem apoio financeiro, então elas estão assumindo a parte de geração", comentou. O estudo de pós doutorado está sendo realizado no departamento de Energia da faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp.
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